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Manaus, Amazonas, Brazil
É preciso ser muito humilde para viver de forma honesta com os seus próprios sentimentos. Por isso escrevo; para abrir meu coração, não para obter respostas. Para me sentir livre ao falar das minhas asperezas e das alegrias que muito transbordam em mim (Fred Elboni).

terça-feira, 22 de novembro de 2016

A Chuva Fria de Novembro


Então vem chegando dezembro. O mês chuvoso. O mês sombrio. Invento desculpas e arrumo as malas pra voltar pra você. Ouço o barulho lá fora, é você estacionando o carro, veio se despedir. Todo mês era o mesmo roteiro: beijo na testa e um se cuida seguido de volto logo. Era 27 de dezembro, ouvi o telefone tocar depois de uma semana sem notícias, mas o silêncio nunca me preocupou por ser nosso maior e melhor cúmplice. Alguém se identificou, lembrei do nome, mas não reconheci a voz. Acidente. Chuva. Hospital. Traumatismo. As últimas frases ficaram inaudíveis. E eu emudeci no canto de um banheiro qualquer, fiquei ali por tanto tempo, fiquei quieta, calada, sozinha, inspirando e respirando tão rápido. Horas depois enlouqueci quando o verdadeiro desespero tomou conta de mim.

Você não voltou. E meu sofrimento parecia não ter fim. Vi os dias passando, contei as horas e fiz da minha cama um lugar seguro do qual não sentia vontade de sair. Eu via você. Em todo lugar. Em todas as lembranças dos três anos incríveis que você me fez viver. Você foi egoísta demais me deixando. Quem deixa uma garota de 22 anos perdida e sem direito do último adeus? Foi cruel perder você. Foi cruel imaginar tanta vida sendo tirada de uma forma tão injusta. Eu achei que eu fosse morrer de tristeza. De solidão. De tanto chorar. Descobri o que é depressão depois de aceitar ajuda pra superar o que sozinha jamais conseguiria. Demorou anos pra passar. Até que enfim encontrei o lugar em que você foi colocado pra descansar em paz.

Pensei que depois de algum tempo fosse ficar mais fácil, mas é o quarto ano, arrumo as malas e visto o luto mais uma vez. Voltar ainda exige demais de mim. A viagem até aqui é uma tortura mental. Os pequenos gestos, a sua forma de me conquistar, as conversas que viravam as madrugadas, nossas brigas, as desculpas, as noites com os amigos, o bom dia, o café da manhã, nossos longos abraços, os finais de semana, os programas simples, o brilho nos seus olhos e o som da sua voz. Me arranca o coração saber que não ouvirei sua voz novamente e que nenhuma lembrança dessa voltará a ser uma realidade minha. Eu só sei pensar no passado e na promessa quebrada de que se eu pedisse você sempre voltaria pra mim. Volta pra mim.  Mesmo na distância infinita e na dor eu acredito que um dia vou poder olhar pra trás sem o peso do inacabado, mas enquanto esse dia não chega, no meio de todas as minhas crenças eu  rezo por você, não posso mais te ver, mas sei que posso sentir. Que ao seu lado tenha um lugar guardado pra mim. pode demorar um pouco, mas quando chegar a minha vez, sei que te encontrarei por aí. Onde for. Onde você estiver.