A Garota do Blog

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Manaus, Amazonas, Brazil
É preciso ser muito humilde para viver de forma honesta com os seus próprios sentimentos. Por isso escrevo; para abrir meu coração, não para obter respostas. Para me sentir livre ao falar das minhas asperezas e das alegrias que muito transbordam em mim (Fred Elboni).

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Carta ao Remetente



No fundo, há um medo bobo de doar mais do que receber, de se entregar por inteira enquanto o que te dão em troca é só metade. Se apaixonar é um risco que as pessoas não querem correr, tudo que vejo é decepção em corações que não se permitem recomeçar. Talvez eu seja uma dessas pessoas que não buscam relacionamentos com a desculpa de que prioridades devem ser obedecidas. Talvez eu seja uma dessas pessoas que encontram alguém no caminho, mas deixa passar por acreditar que o mundo é bem mais bonito quando visto sem o peso de um relacionamento que despencou ladeira a baixo. Ou talvez, em raras vezes, eu sou a pessoa que está disposta a recomeçar enquanto o outro não prevê pra si uma nova oportunidade de começo.
No segundo caso, escolhas nos são exigidas, muita das vezes com consequências tardias, há aqueles que nos encantam de tantas formas, que conseguem sem esforço algum ultrapassar barreiras impostas por nossas antigas dores. E a gente sente essa barreira sendo levemente retirada, então sentimos medo, porque somos programados pra  se autopreservar. É quando viro as costas e vou sem avisar, não faço votos de despedidas, não faço questão de outra vez, um beijo que nos faz sentir vontade de sermos mais não é um beijo que deve ser repetido, mas impedido. A gente leva no coração a  memória de tudo que nos levou até ali, mas seguimos firme sem saber se nos machucaríamos ou não. Nos faltam fichas pra arriscar a perder o que podemos manter.
No último caso, eu poderia ser a pessoa que insiste e mostra os diversos caminhos que merecem ser trilhados, onde a paisagem é diferente e o que se ver ao redor é bem mais ensolarado. Que somos seres humanos tão divergentes, desiguais, discordantes que o passado não teria chance de ser comparado ao presente. Os anéis que se vão não levam os dedos, muito menos o coração. O carinho e o cuidado são sentimentos tão bonitos que não deveriam ser rejeitados, mas cultivados gentilmente. A única dificuldade de não se permitir o novo é não identificar com quem está a nossa cura. E é aí que infelizmente a gente deixa a felicidade ir embora, quando tudo que ela mais quer é somente ficar e reensinar o valor da felicidade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Lembrança Boa



Tem uma música que você me deixou de presente há alguns anos e me sinto estranha por falar em anos visto que as vezes o tempo nem parece que passou tanto. Cada vez que ouço essa música não importa se eu esteja perto ou distante demais de ti, a música meio que me puxa pra dias bonitos em que você foi meu sol no meio de tanta escuridão. É assim que sempre me recordo de você, como um ser humano lindo que esteve ao meu lado quando nem eu mesmo estava. Você é incrivelmente meu humano favorito, embora eu nunca tenha dito isso. Eu queria ter dito. Acho que posso concluir que você é meu desencontro mais afetuoso que fiz questão de transformar em uma lembrança boa e feliz.

Queria que a vontade de te ver tivesse me convencido a te procurar, você estava ali, depois de uma longa temporada, a uma distância de dois passos, eu só precisava abrir a porta e dizer "oi". Mas resgatar o passado não me pareceu a melhor ideia, nós já havíamos superado um ao outro de uma forma serena e tranquila. Não seria justo nem comigo e nem com você. Então segui. Não sem antes perguntar por você e saber que sua vida também vai bem. Creio que você também ficaria feliz em saber que comigo os anos foram professores generosos, se mudei em algum ponto, você diria que foi pra melhor. Penso em você não todos os dias, mas penso as vezes antes de dormir ou misteriosamente quando essa música toca num bar ou na rádio. Eu silencio, acho graça e penso "é a nossa música". A que você me deu quando disse que precisávamos seriamente de uma música pra nós.

Eu não sei se você ainda passa aqui pra ler meus textos como fazia, mas se um dia chegar a ler esse espero que se identifique nas entrelinhas e saiba que é especialmente pra você, pois foi nessa manhã que desdobrei uma carta escrita em um papel de receituário datada em 2016. Não lembro se no dia em que me entregou foi a última vez que nos vimos, não lembro, mas se eu soubesse que seria a última eu teria respondido que embora parecesse impossível e eu não demonstrasse tanto, me apeguei a você e ao seu jeito carinhoso de cuidar de mim. Hoje, sentada aqui, observando um céu lindo e sentido o vento enquanto escrevo após reler sua escrita a mão eu só consigo dizer que sim eu adoraria ter recebido aquele "convite de casamento". Metafórico talvez. Mas danado de bonito. Anos depois e eu ainda não consigo saber o que fez você escrever tantas linhas. Seja o que tenha sido, o sentimento pode ter se perdido com o tempo, no entanto isso não significa que eu tenha me perdido de você.

Te mantenho comigo. Sempre.
Isso me parece ser o suficiente.