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Manaus, Amazonas, Brazil
É preciso ser muito humilde para viver de forma honesta com os seus próprios sentimentos. Por isso escrevo; para abrir meu coração, não para obter respostas. Para me sentir livre ao falar das minhas asperezas e das alegrias que muito transbordam em mim (Fred Elboni).

domingo, 2 de setembro de 2018

Deu Saudade


Contar que saudade possui inúmeras formas de aparecer, com oscilação de intensidade e pequenas pontadas que ainda que invisíveis causam dor existente. Como alguém pode sentir saudade de um lugar que nunca esteve? Ou sentir saudade do quase nada? De algo que sequer aconteceu. Como alguém pode querer no presente o que mesmo olhando pra trás já não consegue ver, mas numa frase piegas admite que ainda assim consegue sentir? A saudade não se resume a lembranças, a saudade exige mais, exige tanto que embora você não pense, ela consegue se manter inconsciente, imutável e dolorosamente irritante. Se a vontade pudesse ser realizada sem ferir o orgulho eu teria voltado, no entanto, não aprendi  a diferenciar o certo do errado, é apenas naquele segundo antes de dormir que permito que a saudade me conceda a certeza de que sim, podemos sentir falta de um lugar que nunca estivemos e talvez seja esse o pior tipo de saudade, um tipo capaz de transformar tudo ao redor em traços omissos de chuva nos olhos.

A sensação do quase nada que ficou só serviu pra saber que o céu e o inferno é aqui e viver em um deles depende mais de quem está no seu coração do que mesmo de você. Sigo acreditando que hora dessas qualquer, ela cansará, nada é pra sempre e até a saudade deve ter em nota que não é sábio permanecer onde não há reciprocidade. Me desfaço em prece e rogo ao tempo que faça poeira do que sinto, dessa ausência que não cabe mais em mim, dessa nostalgia de imaginar que eu poderia ter sido a felicidade e dias de sol de quem só sabe demonstrar no sorriso o quanto é infeliz. Rogo que o vento espalhe em cada canto do passado a saudade que não posso tocar, mas que conscientemente me faz pequena diante dos espaços que transborda. Há a inquietude de esperar, de fato, negar não me atrevo, mas arrisco a me desfazer dos detalhes que sustentam a minha espera. O desafio é fazer com que a saudade abra mão do medo de me deixar ir sem questionar ou impedir que eu vá. Não se pede licença pra sair quando se quer mais que tudo ficar. 

Os dias que por obrigação deveriam diminuir sensações e saudade só me ensinaram que intensidade não se controla, que é mais fácil tentar conviver com as pequenas e incômodas pontadas do que fingir inércia, insensibilidade. Sentir é o que faz as minhas melhores linhas serem escritas, ora sobre a sorte, ora sobre abraços que desencaixam, por ora te conto sobre essa estranha forma de amar uma impressão que de tão forte se fez saudade suficiente pra permanecer quando não canso de insistir que ela faça morada em outro lugar. Me torno parte do silêncio e desconstruo mentalmente dia após dia todos os planos em torno do presente que não se materializou. Disfarço o sentimento de perda e mantenho a convicção de que se fosse real estaria aqui no segundo em que fecho os olhos pra escrever em pensamento um texto sobre a saudade e como ela me afeta tristemente antes de dormir.