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Manaus, Amazonas, Brazil
É preciso ser muito humilde para viver de forma honesta com os seus próprios sentimentos. Por isso escrevo; para abrir meu coração, não para obter respostas. Para me sentir livre ao falar das minhas asperezas e das alegrias que muito transbordam em mim (Fred Elboni).

domingo, 13 de outubro de 2019

Não Me Conta


Um espaço minimo, sufocante que me pressionava a encolher quando sentia sua respiração, o exagero nos sentimentos, o exagero no cuidado, eram pequenos detalhes escolhidos com tanto cuidado pra que eu não percebesse. Eu era a garota substituta. Do meu lado entre meus dedos, você. Você com seu pensamento perdido tentando encontrar alguém no futuro ou passado, difícil dizer sob o céu de felicidade que me fez acreditar viver. As inúmeras vezes que segurou minha mão, o olhar distante, o coração também, não ouso perguntar se algum dia eu consegui alcançar você. Seu sorriso sempre me pareceu triste no fim, como meu sorriso agora meio aliviada por ter te visto partir quando brincou de ir embora e eu não tentei impedir. Como meu olhar distante enquanto abraço a mim mesma ou como meu coração inalcançável. Eu me tornei você. Então essa é a sensação? Não me conta.

A última noite com sua risada alta, com tuas piadas prontas, com tua mania tonta de me oferecer músicas que ninguém mais ouve, com teu jeito despreocupado de me ver vestida em suas blusas de bandas e super-heróis.  Teu beijo tinha gosto de mais, teu colo um abrigo inseguro, apesar disso não consegui ficar longe, apesar disso puxava você sorrindo e dançava sob as estrelas entre minha alegria e sua cara de satisfação ao me ver tão feliz.  De perto não dava pra ver o quanto éramos distantes. De perto eu tinha cada parte de você. De perto eu acreditava que o que vivíamos era tão bonito quanto a paz que ao teu lado eu me permitia sentir. De perto dentro do seu olhar aberto eu fechava o meu e no entusiasmo escalei até o topo e o horizonte era extasiante. 

O último abraço me fez tão pequena, sua respiração me sufocou, me encolhi envergonhada tentando secar as lágrimas ao repetir baixinho "por que a gente deu errado?". Não havia lugar pra nós. Não havia lugar pra mim. Na sua brincadeira de dizer que ia embora eu aproveitei e deixei você ir. O abandono ao contrário do que dizem não é libertador, é triste. É doloroso. Fui a garota substituta de um amor que por ter sido intenso não se desfez e nem me deixou ser amada na mesma intensidade. A sensação é incompletude, as vezes parece ser nada, vazio, uma vida em piloto automático arrastando a esperança de proporcionar a outro alguém um céu felicidade que posso dar, mas não posso sentir. Escalar no entusiamo da paixão não foi difícil, difícil foi sentir a minha descida em queda livre enquanto você aprendia a voar.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Meu Eu em Você



Eu entendi a mensagem,  entendi as chamadas não atendidas, entendi a nossa falta de comunicação no instante em que falei sozinha por nós dois. Eu aceitei nosso fim afundada em um sofá preto com listras vermelhas, me vi em longas noites sob um cobertor ouvindo todas as canções que tocavam na hora errada. Perdi nossos detalhes distraída com os detalhes do mundo. Pensei, não senti. Agora com essa caneca de chá quente nas mãos sinto a tristeza e penso no sofrimento que causei, eu te afastei durante meu sono enquanto você desistia de tentar. Eu entendi a mensagem. Foi claramente uma forma de término indigno, mas aplaudi o texto pela sinceridade sobre coisas que eu precisava saber. As verdades só me fizeram encolher um pouco mais em uma cama enorme demais pra mim, aumentei o volume da música pra não me concentrar nos pensamentos  sobre a possibilidade de ter mudado, de ter modificado meu jeito e acreditado mais em nós dois. Por onde andei enquanto você sentia minha falta?

Despertei na manha seguinte engolida por lençóis, tinha espaços preenchidos de saudade do lado direito da cama, na verdade esse espaço parece que sempre esteve aqui. Fiz um café forte, a chuva molhava o vidro da janela, voltei pra cama e mais uma vez afundei-me em mim. Evitei saber o horário porque as horas corriam contra minha decisão de seguir em frente. Evitei lembrar de você porque me recusava a questionar como pude me perder tanto? O telefone não parava de tocar, ouvia do quarto algumas batidas na porta, não senti vontade de falar sobre você e eu e não mais em nós. Não me sentia confortável pra mentir que já estava tudo bem, nem de esboçar sorrisos assegurando que tudo ia passar. Não passou. E eu preciso primeiro aceitar o vazio dos passos inexistentes pela casa e o silêncio da tua voz. Onde foi que eu perdi você? Coloquei o casaco e saí pra caminhar sem direção, a rua estava tão deserta quanto minha vida. A noite caia e os casais começavam aparecer, um em especial me chamou atenção, eles sorriam com cumplicidade, caminhavam de mãos dadas, ela apoiava a cabeça no ombro dele. O reflexo da minha felicidade de uns tempos atrás. Eu sorri. 
Eu preciso deixar você ir. Não vou prender você aqui com ataque de histeria ou um surto psicótico listando por onde posso começar a mudar. Eu estudei cada ponto das suas queixas descritas na mensagem e surpresa, todas elas são justificáveis. O sofrimento foi um peso que você segurou por dias, meses até, e eu não quero tornar esse peso maior, seria desumano e desonesto. Você fechou seus olhos, seguiu meus passos, sinto tanto por não ter te levado a nenhum lugar, talvez eu não soubesse pra onde estava indo e se me permite admitir, ainda não sei. Eu preciso devolver seus sonhos depositados em mim, preciso deixar você partir com seu amor, ali na frente você precisará dele pra dar a outra pessoa não tão egoísta como eu, mas espero que o suficiente pra não deixá-lo ir. Eu tenho que deixar você ir porque sua falta vai doer mais que tudo, mais do que já está doendo e mais do que vou poder suportar. 
E isso foi tudo que estava escrito em um folha amarelada que entreguei quando ele abriu a porta surpreso ao me ver encharcada e com os olhos vermelhos. Não entrei mesmo ele tentando me convencer que uma gripe podia virar pneumonia. Virei de costa e chorei com os braços em volta do meu corpo segurando a força de vontade de voltar e pedir pra ficar. Fiz o que passei dias pensando em fazer e meus ombros estão aliviados. Em casa o vazio ao qual tenho tentado me acostumar ainda me espera, mas tem chocolate quente também. O amo com toda a força e sentimento que alguém que compôs aquela música Meu Eu em Você pode amar, mas a decisão de voltar só pode ser tomada por quem decidiu partir. E por ora, eu só preciso de uma noite de sono desmanchada de pensamento e pedindo apenas que o tempo me faça feliz.

domingo, 23 de junho de 2019

Bilhete



Você odeia desculpas. Eu sei, também não suporto quando entendo que alguém está dando rodeios pra não dizer o que realmente quer. Me desculpa, assim sem rodeios, essa é uma das muitas vezes que me deparo com a mesma situação, quando acaba é quando vou repensar em toda a história e identificar os pequenos sinais. Me desfiz de todos ao longo do tempo. O tempo que passou e me mostrou que talvez eu pudesse ter sido mais. Dito mais e não apenas ter me escondido atrás do silêncio e do cansaço das inúmeras horas de trabalho. Eu nem sabia que você estava lá, eu nem consegui demonstrar o tanto de sentimento que eu sentia por medo de que você desfizesse deles - apesar de saber que isso você jamais faria.  
Eu sinto muito e esse sentir nem é tanto pra alcançar você, mas sim a mim, o fato de sentir culpa desde que você seguiu tem acabado comigo. Não me entenda mal, na verdade, entre raiva, decepção eu definitivamente tenho sentimentos de felicidade por você. Sempre achei que você precisava superar e construir outra vida longe do que te fez infeliz. Só não achei que isso aconteceria tão rápido, parece que pisquei e perdi o momento que tudo mudou. Não tem sido muito fácil conviver com a ideia de que mais uma vez eu vou ficar assistindo tua vida, torço mesmo, de verdade que teu sorriso dure por tempo indeterminado, que você se refaça pra melhor e que teus olhos brilhem ainda mais. 
Sabe aquela música? Ela também me salvou de mim mesma em um passado distante, por isso, agora eu uso a frase pra completar esse texto e pedir que se houver nos anos um espaço que ele me leve de volta pra o dia em que te reencontrei nessa cidade que hoje se tornou pequena demais. Eu odeio desculpas e dá-las a mim com esse tanto de rodeios só faz com que eu não siga em frente. Pra você ver, um punhado de meses sem escrever linhas algumas e retorno com a esperança de que ao fazer isso eu também me permita partir. Não posso desfazer as minhas decisões, sei bem disso, no entanto, penso em mudá-las pra que o erro não se repita, deixar sentimentos pra depois tem sido um constante desastre. Ouvi por aí que amar é decidir. Nesse caso eu decido recomeçar. 
Sorte na vida pr'ocê.
Com amor,
D.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Carta ao Remetente



No fundo, há um medo bobo de doar mais do que receber, de se entregar por inteira enquanto o que te dão em troca é só metade. Se apaixonar é um risco que as pessoas não querem correr, tudo que vejo é decepção em corações que não se permitem recomeçar. Talvez eu seja uma dessas pessoas que não buscam relacionamentos com a desculpa de que prioridades devem ser obedecidas. Talvez eu seja uma dessas pessoas que encontram alguém no caminho, mas deixa passar por acreditar que o mundo é bem mais bonito quando visto sem o peso de um relacionamento que despencou ladeira a baixo. Ou talvez, em raras vezes, eu sou a pessoa que está disposta a recomeçar enquanto o outro não prevê pra si uma nova oportunidade de começo.
No segundo caso, escolhas nos são exigidas, muita das vezes com consequências tardias, há aqueles que nos encantam de tantas formas, que conseguem sem esforço algum ultrapassar barreiras impostas por nossas antigas dores. E a gente sente essa barreira sendo levemente retirada, então sentimos medo, porque somos programados pra  se autopreservar. É quando viro as costas e vou sem avisar, não faço votos de despedidas, não faço questão de outra vez, um beijo que nos faz sentir vontade de sermos mais não é um beijo que deve ser repetido, mas impedido. A gente leva no coração a  memória de tudo que nos levou até ali, mas seguimos firme sem saber se nos machucaríamos ou não. Nos faltam fichas pra arriscar a perder o que podemos manter.
No último caso, eu poderia ser a pessoa que insiste e mostra os diversos caminhos que merecem ser trilhados, onde a paisagem é diferente e o que se ver ao redor é bem mais ensolarado. Que somos seres humanos tão divergentes, desiguais, discordantes que o passado não teria chance de ser comparado ao presente. Os anéis que se vão não levam os dedos, muito menos o coração. O carinho e o cuidado são sentimentos tão bonitos que não deveriam ser rejeitados, mas cultivados gentilmente. A única dificuldade de não se permitir o novo é não identificar com quem está a nossa cura. E é aí que infelizmente a gente deixa a felicidade ir embora, quando tudo que ela mais quer é somente ficar e reensinar o valor da felicidade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Lembrança Boa



Tem uma música que você me deixou de presente há alguns anos e me sinto estranha por falar em anos visto que as vezes o tempo nem parece que passou tanto. Cada vez que ouço essa música não importa se eu esteja perto ou distante demais de ti, a música meio que me puxa pra dias bonitos em que você foi meu sol no meio de tanta escuridão. É assim que sempre me recordo de você, como um ser humano lindo que esteve ao meu lado quando nem eu mesmo estava. Você é incrivelmente meu humano favorito, embora eu nunca tenha dito isso. Eu queria ter dito. Acho que posso concluir que você é meu desencontro mais afetuoso que fiz questão de transformar em uma lembrança boa e feliz.

Queria que a vontade de te ver tivesse me convencido a te procurar, você estava ali, depois de uma longa temporada, a uma distância de dois passos, eu só precisava abrir a porta e dizer "oi". Mas resgatar o passado não me pareceu a melhor ideia, nós já havíamos superado um ao outro de uma forma serena e tranquila. Não seria justo nem comigo e nem com você. Então segui. Não sem antes perguntar por você e saber que sua vida também vai bem. Creio que você também ficaria feliz em saber que comigo os anos foram professores generosos, se mudei em algum ponto, você diria que foi pra melhor. Penso em você não todos os dias, mas penso as vezes antes de dormir ou misteriosamente quando essa música toca num bar ou na rádio. Eu silencio, acho graça e penso "é a nossa música". A que você me deu quando disse que precisávamos seriamente de uma música pra nós.

Eu não sei se você ainda passa aqui pra ler meus textos como fazia, mas se um dia chegar a ler esse espero que se identifique nas entrelinhas e saiba que é especialmente pra você, pois foi nessa manhã que desdobrei uma carta escrita em um papel de receituário datada em 2016. Não lembro se no dia em que me entregou foi a última vez que nos vimos, não lembro, mas se eu soubesse que seria a última eu teria respondido que embora parecesse impossível e eu não demonstrasse tanto, me apeguei a você e ao seu jeito carinhoso de cuidar de mim. Hoje, sentada aqui, observando um céu lindo e sentido o vento enquanto escrevo após reler sua escrita a mão eu só consigo dizer que sim eu adoraria ter recebido aquele "convite de casamento". Metafórico talvez. Mas danado de bonito. Anos depois e eu ainda não consigo saber o que fez você escrever tantas linhas. Seja o que tenha sido, o sentimento pode ter se perdido com o tempo, no entanto isso não significa que eu tenha me perdido de você.

Te mantenho comigo. Sempre.
Isso me parece ser o suficiente.