Outubro.
Tinha uma nostalgia sobre os dias - talvez era o mês. O décimo do ano representava um tempo que era difícil não recordar, o relógio que marcava cinco da manhã enquanto uma mensagem era enviada tal qual uma última esperança que outro lado perguntasse o por quê de uma partida tão inesperada. Tinha um heroísmo da parte dela, talvez por ter ido ao limite na tentativa de não perder o que pra ela era tão valioso e único. Mas o limite tem seu preço que foi pago pela mensagem recebida sem sinais de falta ou apego na linha fina de conexão que ela percebeu que já não existia mais. De algum jeito torto, ela sabia desde o começo que o final iria doer. E doeu. Constantemente. É preciso perder as vezes - foi o que ela pensou enquanto sorria olhando pra um rio sem desviar a atenção. Havia um silêncio violento acompanhado de uma inércia sobre aceitação, misteriosamente parece que as malas carregavam mais do que itens necessários, ela se perguntou quando seria o momento certo pra abandonar o medo de viver uma vida em que a casa para qual ela iria retornar - depois de tudo - ainda estaria ali, com lembranças intactas ocupando a varanda com vista para os dias desconfortavelmentes chuvosos.
Outubro
Uma tarde de domingo com céu em tons acinzentados que promete chuva e uma sensação de nostalgia sobre os dias. Talvez seja o café gelado ou clima frio - raro e perfeito. Ela sorri facilmente observando cada canto arrumado da casa. Então essa é a sensação de não sentir medo? Aproveitando o silêncio que conforta e abraça gentilmente enquanto sentada na varanda admite que misteriosamente anos depois os móveis novos substituíram não somente os velhos desnecessários, como recriaram memórias tranquilas e acolhedoras. Se pra ela houve um tempo em que respirar neste lugar era cortante e difícil, hoje é refrescante e sinônimo de vida. É bonito de ver, ela viver. O que é valioso permanece e o que é único precisa ser recíproco. Embora ela tenha o talento de ter uma memória especial com detalhes de diálogos e datas, o décimo mês do ano tinha dias especialmente fantasmagóricos, mas nada perturbador, apenas recordações que se permitissem ser sentidas já não doía mais. O barulho da chuva que visitava a janela permanecia como uma sonora canção de ninar, volta e meia de olhos fechados com seu sorriso de menina, ela que viu os anos passarem e a maturidade se desenvolver, sussurrava de forma compreensível "as coisas são como são" e tudo fica bem.
Outubro
Cinco da manhã, a previsão do tempo é que o dia será ensolarado, prepara o café - dessa vez quente - checando o celular, repassa toda a rotina, a calma de quem terá um dia cheio, mas produtivo, os dias passam, veja só, daqui é possível sentir e afirmar com certeza: ninguém novamente seria capaz de roubar a paz, alegria e felicidade dela. Ah! De um jeito torto ela também sabe. Perder as vezes é preciso, e o que não contam é que a perda precede o inverno e tão logo a melhor versão de si mesmo, dar errado não significa que o final vai doer, se há uma lição é que além do clima o que mais pode ser previsto? Como a heroína da sua própria história que conhece seus limites, não sabe quando irá ultrapassá-los mais uma vez, mas sabe que se isso acontecer será pelo que acredita, seja o amor por si mesmo ou pelo outro. E quem mais pensaria assim se não alguém com coragem. É preciso coragem pra viver. E vi coragem nela desde o dia em que a linha fina de conexão desapareceu às cinco da manhã em uma mensagem enviada em outubro daquele ano. Ela sorrir, genuinamente, ama cantarolar aquela música e quando chove desliga qualquer som apenas pra ouvir o barulho de pingos no teto, tem sempre um café gelado no final da tarde e uma sensação de que não poderia ser mais feliz do que é hoje. É o suficiente pra mim observar ela viver a felicidade assim.

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