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É preciso ser muito humilde para viver de forma honesta com os seus próprios sentimentos. Por isso escrevo; para abrir meu coração, não para obter respostas. Para me sentir livre ao falar das minhas asperezas e das alegrias que muito transbordam em mim (Fred Elboni).

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Gravidade


Já encontrou? Aquela pessoa que te lê em segundos? Que despe sua alma com o olhar? Que sorrir, não pra você, mas pra algo que por escolha vai acontecer. Um esbarrão e não, nada de amor à primeira vista. Amor seria trágico demais. Tensão, sobrecarga, emoção, eletricidade, infinidades definiriam a sensação única que envolveu o aperto de mãos. Quem diz que intelectualidade não atrai é porque não o conhece. Tão sagaz, tão perspicaz, tão envolvente. Exibe a beleza que deixaria o próprio Adônis desinteressante. Tem a voz que imaginei sussurrar no meu ouvido desejos intensamente mortais. Eu queria mais. E pedi encarando o dono de qualidades que juntas eu jamais vi em uma pessoa só. Seria infame tentar descrever o sabor dos nossos lábios se tocando com urgência e impaciência. Ele é um tipo de narcótico que você não consegue dizer não. Ele tem o dom da manipulação com intuito de proporcionar o melhor que há no prazer, como se aquelas fossem suas últimas horas na terra. Ele da tudo de si. 

Expostos em busca da perda do fôlego, ansiosos, apressados pela realização de nossas vontades e tudo que havíamos imaginado até aqui. Sua pele não conheci, mas reconheci em detalhes quando toquei seu corpo e me contive em não arranhar suas costas, marcas eram nossa única proibição. Então o segurei o mais forte que pude e fechei os olhos pra aproveitar a entrega absoluta. A inocência foi deixada de lado no momento em que nos pertencemos, abraçados, molhados pelo suor, sem respirar, com meus dedos entrelaçados em seus cabelos. Perto. Mais perto. O suficiente pra roçar sua barba no meu rosto, no meu pescoço enquanto procurava sua boca pra beijá-lo mais uma vez. Dessa vez com calma, tranquilidade, sossego e silêncio pra ouvir apenas a diminuição dos nossos batimentos cardíacos. A sobriedade do encaixe perfeito. Não havia mundo porta a fora e ali eu só queria permanecer o máximo de tempo que não tínhamos mais. 

Eu encontrei. A pessoa que me leu em segundos. Que despiu minha alma ao me olhar. Que sorriu sem saber que nossas escolhas nos levariam a uma conexão magnética por vivermos em lados opostos. Se não fossem as diferenças e o encontro interessante por ser tão improvável não haveria curiosidade recíproca. Não há limites ou impossibilidades pra duas pessoas que são atraídas pela epiderme. Ou por uma intimidade intelectual. Espiritual. Uns chamam de loucura, de atitude irracional, mas esses jamais sentirão as veias queimarem pela paixão e acredite, poucas pessoas tem o privilégio de viverem o extremo de um instante quando cada reencontro já é despedida. Por isso não se engane, os presentes da vida tem seu preço e a saudade silenciosa é um deles. Calar o que sente é um valor alto demais quando ao se afastar uma parte é sempre deixada do lado de lá. Contudo, é um preço que me dispus a pagar. A lei da gravidade é absoluta não adianta querer puxar, exige um gigantesco esforço. Mesmo esperando inconscientemente que voluntariamente ele reapareça pra fugir comigo. Só existe uma forma de contrapor essa lei: o empenho próprio de não mais me contentar em permanecer no  mesmo lugar.

Texto de Dheysse Lima e W. Marianelli