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O que é mais difícil não é escrever muito; é dizer tudo, escrevendo pouco - Júlio Dantas

domingo, 19 de outubro de 2025

As Coisas São Como São


"If you love, let 'em go, it's a saying that I heard"




Outubro.

Tinha uma nostalgia sobre os dias - talvez  era o mês. O décimo do ano representava um tempo que era difícil não recordar, o relógio que marcava cinco da manhã enquanto uma mensagem era enviada tal qual uma última esperança que outro lado perguntasse o por quê de uma partida tão inesperada. Tinha um heroísmo da parte dela, talvez por ter ido ao limite na tentativa de não perder o que pra ela era tão valioso e único. Mas o limite tem seu preço que foi pago pela mensagem recebida sem sinais de falta ou apego na linha fina de conexão que ela percebeu que já não existia mais. De algum jeito torto, ela sabia desde o começo que o final iria doer. E doeu. Constantemente. É preciso perder as vezes - foi o que ela pensou enquanto sorria olhando pra um rio sem desviar a atenção. Havia um silêncio violento acompanhado de uma inércia sobre aceitação, misteriosamente parece que as malas carregavam mais do que itens necessários, ela se perguntou quando seria o momento certo pra abandonar o medo de viver uma vida em que a casa para qual ela iria retornar - depois de tudo - ainda estaria ali, com lembranças intactas ocupando a varanda com vista para os dias desconfortavelmentes chuvosos.  

Outubro

Uma tarde de domingo com céu em tons acinzentados que promete chuva e uma sensação de nostalgia sobre os dias. Talvez seja o café gelado ou clima frio - raro e perfeito. Ela sorri facilmente observando cada canto arrumado da casa. Então essa é a sensação de não sentir medo?  Aproveitando o silêncio que conforta e abraça gentilmente enquanto sentada na varanda admite que misteriosamente anos depois os móveis novos substituíram não somente os velhos desnecessários, como recriaram memórias tranquilas e acolhedoras. Se pra ela houve um tempo em que respirar neste lugar era cortante e difícil, hoje é refrescante e sinônimo de vida. É bonito de ver, ela viver.  O que é valioso permanece e o que é único precisa ser recíproco. Embora ela tenha o talento de ter uma memória especial com detalhes de diálogos e datas, o décimo mês do ano tinha dias especialmente fantasmagóricos, mas nada perturbador, apenas recordações que se permitissem ser sentidas já não doía mais. O barulho da chuva que visitava a janela permanecia como uma sonora canção de ninar, volta e meia de olhos fechados com seu sorriso de menina, ela que viu os anos passarem e a maturidade se desenvolver, sussurrava de forma compreensível "as coisas são como são" e tudo fica bem. 

Outubro

Cinco da manhã, a previsão do tempo é que o dia será ensolarado, prepara o café - dessa vez quente - checando o celular, repassa toda a rotina, a calma de quem terá um dia cheio, mas produtivo, os dias passam, veja só, daqui é possível sentir e afirmar com certeza: ninguém novamente seria capaz de roubar a paz, alegria e felicidade dela. Ah! De um jeito torto ela também sabe. Perder as vezes é preciso, e o que não contam é que a perda precede o inverno e tão logo a melhor versão de si mesmo, dar errado não significa que o final vai doer, se há uma lição é que além do clima o que mais pode ser previsto? Como a heroína da sua própria história que conhece seus limites, não sabe quando irá ultrapassá-los mais uma vez, mas sabe que se isso acontecer será pelo que acredita, seja o amor por si mesmo ou pelo outro. E quem mais pensaria assim se não alguém com coragem. É preciso coragem pra viver. E vi coragem nela desde o dia em que a linha fina de conexão desapareceu às cinco da manhã em uma mensagem enviada em outubro daquele ano. Ela sorrir, genuinamente, ama cantarolar aquela música e quando chove desliga qualquer som apenas pra ouvir o barulho de pingos no teto, tem sempre um café gelado no final da tarde e uma sensação de que não poderia ser mais feliz do que é hoje. É o suficiente pra mim observar ela viver a felicidade assim.  




segunda-feira, 7 de julho de 2025

Despertar

Mesmo que às vezes doa
Though it hurts sometimes
Eu vou me levantar e viver
I'm gonna get up and live

[Survive - Lewis Capaldi]



É 2025. E quem tá contando o tempo? 

Tem razão. Eu estou. São longos 1743 dias divididos entre diversas mudanças e nem estou falando de estações ou clima. É tão vivido na minha mente cada fase que eu poderia descrevê-las sem esforço algum.

O inferno do primeiro ano em que eu só sobrevivia a cada 24 horas com uma jornada imensa de trabalho pra não pensar sobre o fim não dito. A loucura dos 365 dias seguintes em que cada cor de cabelo minha era pra esconder a pessoa que eu não queria mais ver, eu só não queria ver o espelho refletir quem viveu a felicidade que não estava mais ali. A esperança em um novo ano quando eu senti pela primeira vez o recomeço e a sensação de que estava tudo bem e que explicações não são necessárias quando ações é tudo que eu poderia receber. Quando dezembro de 2023 explodiu em fogos de artifícios eu prometi deixar o amor permanecer ali e me senti pronta pra seguir em frente ainda que há um toque de distância, nossas memórias pudessem ser refeitas pela relação de amizade que construí depois do fim. E eu consegui, porque em 2025 eu me reencontrei e ao redor eu pude reconhecer a felicidade novamente e ela brilhava e brilhava intensamente. A vida. Meu sorriso. A beleza da compreensão e solitude perfeita. Eu conquistei de volta. Sem você. E ao mesmo tempo com você, torcendo por mim sem saber que minha maior conquista foi exatamente superar as lembranças que eu não queria perder. 

Há quem diga que foi injusto não dividir a minha dor, no entanto, esse era meu caminho, não o seu. Lutar por mim quase me custou tudo, e teimosamente mesmo sabendo que pra conseguir sobreviver eu precisava abandonar qualquer resquício de ligação, egoistamente eu decidi que iria conseguir assistir a chuva parar de cair com o sentimento genuíno de alegria por qualquer que fosse o motivo da sua felicidade. E você é feliz. Então eu me deito, fecho os olhos e me sinto incrivelmente satisfeita por saber que em sete de julho de dois mil e vinte cinco nós dois somos felizes, que ao invés da chuva, eu aprecio a lua com a certeza de que o amor pode ser escrito de diversas formas, há o final em que o pra sempre resume um futuro juntos e há o final em que mesmo separados, eles permanecem um na vida do outro. 

Eu ainda conto o tempo. Por hábito, talvez. Ou pra lembrar a mim mesmo com um sorriso enorme que tudo passa, que o tempo nos amadurece e que depois de longos 1742 dias, no 1743 você ainda é presente e isso é o suficiente pra mim: Eu posso continuar sendo feliz novamente e você não está lá atrás, você está logo ali do lado sendo feliz por mim também. 

O cabelo cresceu… e, no reflexo do espelho, a cor parecia inteiramente minha —
como se o tempo, por um instante, tivesse finalmente escolhido ser gentil.

Mal sabe o tempo que eu ainda amo você - isso é imutável.