Era uma vez eu
estava me apaixonando pelo cara ingênuo, inteligente e sarcástico. Os signos
combinavam, a atração nos conectava. Não questionem se ele era o cara certo.
Não era. Nem certo, nem perfeito. Perfeição é chata e aqueles que cometem erros
sempre são os mais divertidos. A diversão era o maior vício dessa paixão cega,
insana e dolorosa. Fui me perdendo lentamente em cada parte de um corpo que não
me pertencia, me tornei refém do desejo, me desconheci quando o calor de todos
aqueles beijos aqueceram meu coração. Então silenciei todos os avisos da
razão e fui viver o que não era permitido pra nós: Cenas de romance com
partes destrutivas. Éramos o contrário de qualquer casal. Nada de flores,
cartões, bombões, cinema, nosso contrato não consentia declarações ou
revelações sobre o que sentíamos. Essa forma de paixão é a pior, o engano ocupa
cada espaço, nada é real, porque o real não pode ser dito, se for dito é o fim.
Era uma vez e como
a busca desesperadora pelo ar na sua insuficiência me apaixonei. Dividi meus
dias em horas de espera, emudeci pra processar doces frases feitas, ampliei
as intenções de gestos simples, moldei as mentiras e as transformei nas
verdades que eu queria ouvir por não querer perder, por não querer me desfazer,
muito menos me render quando a saudade torturava meu corpo. Pra cada pensamento
racional sobre a urgência de deixá-lo ir eu inventava mil e umas desculpas pra
continuar me envolvendo. O que me faria enlouquecer mais rápido? Estar com ele
ou não estar? Menti. A vantagem do silêncio é que podemos guardar a verdade. E
se dizer a verdade era sentenciar o fim. Havia chegado a hora. Como um
filme em retrocesso visualizei uma vida, os erros me julgaram e apontaram a
direção certa a seguir. Fiz minha escolha, a dor da consequência
chegou, assim como a chuva nos meus olhos. Quando a paixão se reparte em três
almas, quando compartilhar um amor clandestino provoca em nós a indecisão entre loucura e sensatez, quanto de dor podemos suportar?
"Moldei as mentiras e me transformei nas verdades que eu queria ouvir..." Quem nunca? E quanto pagamos por isso? Maravilhoso!
ResponderExcluirQue lindeza, escritora preferida! Saudade sempre.
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