Como pode alguém ser tão desenvolta em falas profissionais e ter uma barreira comunicativa quando se trata de expor sentimentos? Olhar e saber exatamente a causa do nervosismo e do sorriso. Eu definitivamente reconheci aquela sensação e queria pedir pra fechar os olhos por 60 segundos e contar que toda vez que o destino resolve brincar eu fico feliz por ser a personagem principal quando o outro é você. Mas não contei, de alguma forma perto de você as palavras sempre ficam perdidas nas minhas cordas vocais e eu processo com rapidez uma desculpa boba por medo de ter que encarar novamente as situações das quais há muito tempo eu decidi ir embora quando sentimento se tornou tão intenso e indefinido que o medo me consumiu. E aqui 1332 dias depois me questiono se a certeza de ter me desfeito de tudo ainda é uma certeza, esses reencontros instáveis descontroem o ponto final que eu coloquei pra poder seguir em frente e agora esses reencontros instáveis estão me mantendo no mesmo lugar e eu não consigo decidir o quanto isso é bom ou ruim.
Você sempre foi um ponto de interrogação brilhante, eu que leio facilmente as pessoas e prevejo ações e reações nunca consegui ler você e por não saber quais seriam suas ações e reações, eu nem sequer tentei descobrir. Eu tinha tanto medo de você ir embora e não voltar que fiquei em silêncio culposo quando você saiu e não voltou. A partir de então a lua já não era tão bonita porque não tinha pra quem contar, mas sentada na varanda eu pedi gentilmente pra mesma lua que você fosse genuinamente feliz e que se um dia nos reencontrássemos eu não lembraria de nenhum único mês daquele ano e olha só a ironia da entidade superior ao organizar um alinhamento milenar somente pra aquele encontro testar minha decisão e me ver travando uma batalha comigo mesma depois que não consegui pensar em mais nada a não ser no quanto o seu abraço ainda me protege e me faz forte - e eu odiei ter que admitir isso e o quanto aqueles meses ainda permaneciam na minha memória assim como cada toque, o primeiro beijo e como você despreocupadamente me perdeu sem se importar.
Sou plenamente consciente de que desde o início tinha tudo pra dar errado e essa certeza me fez imergir por meses em confusão racional versus sentimental, era como se eu soubesse que ao deixar você entrar eu viveria em uma eterna espera pelo fim e na minha memória foi exatamente numa segunda-feira a noite. A verdade é que eu desliguei cada sensação de saudade e só me permitia sentir a sua falta em um único dia do ano de dezembro, era como se eu me fizesse presente pra checar se você estaria bem e feliz. Você bem e feliz era o suficiente - há muitas formas de amar alguém e querer a sua felicidade. Sua felicidade mesmo que não fosse comigo foi a forma que encontrei de amar você do jeito que eu sabia. O destino pode me testar quantas vezes quiser, mas as escolhas ainda me pertence pelo livre arbítrio que me foi dado. Reencontrar você bem e feliz ainda é o suficiente. O seu abraço ainda é o único lugar que me deixa calma. E tudo que eu gostaria de contar a você ainda se perde no meu silêncio. O meu silêncio é o meu descanso.
D.